Do meu quarto, procurando um sentido para a vida, assisto à trovoada. Vêm-me à memória outras trovoadas, desde a casa na aldeia onde nasci, com um interregno até Timor, onde os relâmpagos iluminavam por largos segundos o mar e a praia à minha volta a ponto de conseguir visualizar a ilha à minha frente. Na Barra, à varanda, de ventos fortes e mar agitadíssimo, e aqui, tropical de novo, com esta força que corta o céu em dois e cujo rastro dos relâmpagos se esbaça qual rastilho de bomba. Qualquer dia estarei a ponto de necessitar de uma canoa para ir à cidade e é por isso que tenho de me mentalizar que irei permanecer aqui no quarto muitas das próximas noites e apetrechar-me de coisas com que me ocupar.
A ver em que isso se reflectirá.