Foram tantas as experiências novas, as novas amizades conhecimentos e empreendimentos, tantas as imagens sensações que agora tropeçam umas nas outras.

É uma foto que me recorda, um pano, um telefonema, uma informação, das sensações que vivi, das pessoas maravilhosas que conheci, das coisas que dei e que recebi; dos frutos que comi, e que colhi.

É preciso ajudar a que não fique só no lembrar mas que se faça acontecer e reviver. Não basta andarmos a falar do nosso povo amigo, com tão boas relações vividas, de troca, de conhecimento, que não podem correr o risco de se perderem.
É claro que a muitas vai acontecer, retemos aquilo de que mais gostamos. E essas não cabem em fotografias ou mesmo filmes, e só à lembrança podemos voltar.

Acreditamos que ela é capaz, capaz de poder a uma imagem associar movimento, espaço, tempo, som, tacto, olfacto e de ir comparando com todas as outras que entretanto vamos vivendo.


A sua presença rodeia-me. Ainda tenho dentro de mim muitos dos olhares, sorrisos, cantares e contares.

Sei o que dizem, o que pensam o que anseiam. sei o que não têm, o muito ,que é pouco, que lhes falta, sei onde nos encontramos e afastamos.
Sabem que o amanhã não será muito diferente de hoje . Talvez o além de amanhã seja diferente. Talvez vá passear, ou um amigo me venha visitar e á noite não vá dormir, irei antes cantar.

Não sei o que fizeram ontem, não sei como era a vida dos seus os seus antepassados, onde estão, como os adoraram, como dançaram.

Sei que pelos seus pertences eram pessoas de uma simplcidade minuciosa, cuidadosos e dedicados.
Há toda uma história que eu gostaria de conhecer, que permanece no saber dos anciãos, nas suas casas, na sua memória.
Ficam para trás muitos objectos para serem contados, contos do oculto, de festas, do quotidiano, mas ninguém nem nada onde possamos pesquisar, onde possamos encontrar a identidade e a finalidade para que foram construídos.
Podemos especular, podemos por-nos no seu lugar, podemos comparar mas não ver.
São objectos que espelham a beleza, a arte, a utilidade, as lutas ou a morte, mas a sua tradução está enterrada junto com muitos outros á espera de uma recuperação.

Olham para nós, o que nos dizem? Restos de uma natureza morta que trouxe comigo para me fazer lembrar. Mas do que eu não vivi, vi ou ouvi, comigo não pode comunicar.

Estou envolta por um misticismo que não posso desvendar.

Há sempre a presença de um homem e de uma mulher, o equilíbrio da criação, o elo da união, a génese da vida, da continuação.

Os animais de todos os dias, a cobra da boa sorte, o toké gritando por uma posição, o crocodilo, que se fez em nação.

A flor, a tartaruga, o peixe, a ave, o búfalo, a harmonia, a beleza, a plenitude, a comunhão.

Vermelho, verde, azul, laranja, lilás, rosa, açafrão, o sol, o mar, a floresta, a animação.


os elementos unem-se transformando-se em diferentes peças, umas usadas outras já não.

Estátuas, caixas, tapeçarias
pratos, garfos, colheres e pilão
máscaras, espelhos, fios e facas
repletos de segredos
e despertando a minha imaginação

manténs dentro de ti os teus amuletos as tuas histórias os teus cantares
poucos que tiveram a sorte de te visitar e conhecer
alguns puderam te escutar
foste saqueada pisada cortada queimada alvejada mas soubeste passar aos teus filhos os teus segredos
e muitos continuam indesvendados

mas é necessário mostrá-los ao resto do mundo
é preciso ouvi-los e registá-los para que a memoria ou o tempo não nos enganem

nunca foste inteiramente escutada. És uma toda fragmentada tendo em cada detalhe
uma especificidade
olha o Enclave

é certamente um dos teus cantinhos mais indesvendado

onde os portugueses foram aportar
e onde eu as minhas primeiras férias fui passar
a sua beleza passa para segundo plano a de muitos outros países procurados

ao lá chegar erguem-se estranhas formas montanhosas

cheias de vida e de trilhos todos os dias percorridos.
Têm que ir buscar água, lenha apanhar, terras acultivar, frutas e legumes colher. Têm que ir à escola para regressar a casa .

passam por leitos de rios que não tens, que só se revitalessem alguns meses do ano e desviam as pessoas dos caminhos habituaais
que troca as colheitas
que vamos encontrar nos sítios mais altos e difíceis

acolhem-nos de braços abertos
querendo que venhamos para ficar

A tentação é grande.Facilmente se esquece que há outro mundo lá fora e outras coisas de que possamos necessitar. É um bem estar, uma paz, um aconchego, que se não fosse pelos rastos nítidos de destruição, não nos reportaríamos para a tristeza ou as coisas em falta.

Alegras-te com as que tens. Vais a sítios e gostas deles como da primeira vez. Vê-los com outras pessoas que não as de sempre dão-te uma alegria inata. É surpreendente.